Desolação

O sol, tão quente, rachava o solo que há muito não via chuva

e o céu, antes azul, agora é um cinzento sem alegria

mistura de poeira da terra seca

e da fumaça das queimadas

os rios de águas doces, antes abundantes

seguem em cursos rasos e contaminados

as sombras desapareceram

levando o verde à fauna e à flora

nosso lar

sob o peso da exploração desenfreada

e da indiferença humana

O Tempo

 

Olhamos para o tempo

Sem lhe dar o valor merecido

Vivemos num tempo corrido

Apressados

Sempre há um último compromisso

A ser cumprido

Não há momentos a serem desperdiçados

Estamos atrasados

Orgulhosos por sermos ocupados

Um cavalo no telhado

Um cavalo no telhado

Imagem marcante

Desconcertante

Intrigante

Como a pobre criatura ali foi parar?

Instinto de todo animal querendo se salvar!

 

Um cavalo no telhado

Em terras do Rio Grande alagado

Saudade

Quando pisei em terra firme, teu olhar me encontrou, Saudade navegou.

No toque adocicado, dos lábios que buscam os meus, Saudade dos beijos teus.

O navio segue seu rumo sem mim, teu corpo em meus braços âncora, Saudade mar afora.

 

_________Pedro Trajano

Preferência

 

Prefiro os equilibrados aos loucos

Com os primeiros, o diálogo acontece

Enquanto nos segundos, a incerteza cresce

Assim, prefiro os equilibrados aos loucos.

_______Pedro Trajano

O Eco do Erro

Um deslize, uma distração

Após a missa, a comunhão

Sábado à noite, a esposa em casa nos aguardava

Minha filha ao lado, em doce conversa, eu escutava

Chuviscos rabiscavam o vidro do veículo

Era noite, a lua se escondia em seu véu

Eu pensava estar atento à direção, mas falhei.

 

As Máscaras

Nem todo dia de sol é verão

A tristeza às vezes se esconde atrás de um sorriso

Pássaros aprisionados também cantam

Somos mestres na arte de ocultar sentimentos.

Nas noites estreladas, sombras se desenham

O brilho da lua consola a solidão dos caminhantes

Em cada riso pode ecoar um sussurro silencioso

Protagonistas somos de um teatro de máscaras.

Imperfeitas

 

Amigos

 

A Mulher do Século XXI

Quem disse que a outra metade da humanidade
Não precisa da tua força?
Para aqueles que dizem que não podes ser rainha
Afaste-se dessas improdutivas companhias
Olhe para o horizonte, para além das serras
Nos fronts ainda há batalhas para lutar
É preciso coragem para enfrentar tantas guerras.

O sol que toca e queima a pele do teu rosto
Inveja a lua que pode beijá-lo

Zé tramela

Zé tramela
E dona Portela

São os pais de Maribela

Zé tramela gosta de inventar

Dona Portela adora cozinhar

A paixão de Maribela é estudar.

Depois do rio de agua turva

Onde o vento faz uma curva

Moram o casal e Maribela

É lá que o seu Zé tramela

Faz os seus experimentos

Com as plantas da esposa Portela.

O homem danado para inventar!

A família já tem horta e pomar

Onde fruta vira legume

Girassóis

Quando partires,

e eu quero que você parta,

não esqueça de trancar a porta

pois eu fecharei as janelas

e montarei guarita de sentinelas

deixe as chaves debaixo do tapete

não precisarás mais delas

esqueça os jantares a luz de velas.

Agora me sinto sem rumo

um edifício fora do prumo

Cativeiro

Vera viveu no porão da casa de seu vizinho, Reginaldo Dias, por uma década, tendo sido aprisionada lá na adolescência. Recentemente, a morte de sua filha de cinco anos, que nascera naquele local privado da luz do sol na maior parte do dia, a mergulhara na desesperança. E quando suas esperanças já se esvaíam, junto com suas forças físicas para lutar pela vida, a polícia a libertou nesta manhã fria e chuvosa.

A estudante, antes linda, com cabelos cacheados na linha da cintura, olhos negros e pele morena, e cheia de energia, havia entrado naquele lugar convencida de que Regiane Dias, sua melhor amiga, a esperava para um trabalho de escola. Contudo, ao sair de lá hoje, o que se enxergava era uma jovem mulher, com a força física semelhante a uma idosa.

_________Pedro Trajano

A paz que a bicke me traz

Para mim o pedal não é um hobby

Nem um meio de transporte
É mais que um esporte
É um estilo de vida
Que me faz forte.
Sobre duas rodas me equilibro
Força, vontade e fé

Já na saída
Elevo uma prece a Deus
Sigo em frente

Seguindo em frente

 Quando o asfalto acaba, começa o caminho

O medo do desconhecido impede de olharmos para o horizonte

Fazendo com que não enxerguemos o arco íris a nossa frente

A aventura está além das faixas pavimentadas

Que todos nós aprendemos a chamar de estrada.

Quem deseja chegar mais longe não foca no que aconteceu

Ressignifica o passado e segue a sua jornada

Remorso não move montanhas nem muda o vento

As Flores Brancas do Meu Ipê

O cheiro das flores do ipê, um bálsamo suave,

Fragrância em notas leves adentrando pela janela

Unem-se ao aroma do café, combinação singela.

Perfumes dançam no ar, um dueto mágico,

Nossa manhã tranquila assim desperta, tão bela!

Lá fora, em contraste com o clima seco e adverso,

Um carinho na paisagem invernal, um verso.

Plumas brancas de algodão perfumadas,

Sem questionar ofertam em partilha,

Sua doce essência similar à baunilha.

Quando

Quando chegares

Não quero que me encontres

Por trás de portas fechadas

Ou nos balanços das varandas

Quero estar tão imerso em ser útil

Que não sobre tempo para ser fútil.

Quando estivermos frente a frente

Que meu coração não tema

Almejo te reconhecer profundamente

Ressignificar

Que escolha me deste
A não ser ir embora?
Vou procurar outra direção
Mesmo não querendo seguir sem você
nem foi isso que desejei para nós
sonhei com férias em família
crianças correndo pela casa
Presépio e ceia de Natal
todo dia seria um ano novo...
Mas que escolha me deste?
dei tchau por educação

Um homem entre dois séculos

 Aos 48 anos, sou um homem entre dois séculos

O passado reflete a metade, 50% é atualidade.

Testemunha da história, protagonista do agora

Memórias passadas e esperança que aflora

Caminho firme, na trilha que a vida desdobra.

24 anos vividos no crepúsculo de uma época

São mais 24 nesta estação chamada século 21.

Testemunha viva da transição de um tempo

Observando atento o nascer do sol de uma era

Um elo entre o passado, o presente e a espera.

Sequestro

    Tic tac, tic tac... uma corrida contra o tempo, prometi sem querer, só por complacência a uma mãe em prantos, que eu encontraria a sua filha desaparecida, um bebê de dez meses. Ela bateu no meu portão, moro com a minha esposa neste bairro a pouco tempo e mesmo assim aquela mulher sabia que sou um investigador da polícia civil. Pensei rápido e por fim concordei!

    Aceitei com um pouco de resistência a ideia de deixar nossa casa no centro. No entanto, minha esposa acabou me convencendo de que o melhor que poderíamos fazer era deixar para trás um local que trazia lembranças trágicas para nós. Tivemos uma grande perda e prometi a ela que faria qualquer coisa para que eu pudesse vê-la feliz novamente. Os medicamentos têm causado melhorias significativas nela, a ponto de eu não temer mais que ela tente o suicídio novamente.