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sábado, março 08, 2025

Mulher



Tu és a força que move a engrenagem,
a chama que arde sem se consumir.
Ergueste-te em coragem, domaste ventos,
regaste o solo, abri-te caminhos.

És raiz e folhagem,
flor e aço,
abraço que sustenta e acolhe,
mãos que constroem e transformam.

Geraste vidas em teu ventre,
mas também as ensinaste a voar.
Não és sombra nem coadjuvante:
és o futuro, o presente, a história em movimento.

Não há muralhas que te detenham,
nem obstáculos que te sufoquem,
nem desafios que te vençam.
Não cabes em um único dia:
mereces ser admirada a cada aurora,
pois o mundo gira na força da tua ousadia.


opoetatardio
08 março2025

terça-feira, março 04, 2025

A Arte é Real



A arte não copia, recria com sutileza,
Forja um universo de rara beleza.

Na rocha, a mão talha, a forma desponta,
Na tela, o pincel desliza, a imagem se monta.

O som toma corpo, a melodia vibra,
Na dança, o movimento se entrega e equilibra.

O cinema projeta mundos no pensamento,
A arquitetura esculpe o tempo em fragmentos.

No palco, a palavra se faz gesto, infinitas formas,
A arte não imita o mundo, ela o transforma.

opoetatardio

"O objetivo da arte não é reproduzir a realidade, mas criar uma realidade da mesma intensidade." Foi com essa frase que minha esposa, Claudia Perin Trajano de Araujo, escreveu e me mostrou que surgiu a inspiração para este poema. Desde que li essas palavras, elas ficaram ecoando na minha mente e se tornaram o alicerce para a construção deste poema: A Arte é Real. A frase de minha esposa me fez refletir profundamente sobre o verdadeiro papel da arte, e ousei tentar descrevê-lo nestes versos. Espero que aprecie.

terça-feira, fevereiro 25, 2025

Filho Pródigo (Queda, Redenção e Perdão)

Meu olhar de cobiça, alma em tormento
– Pai, dá-me o que é meu, sem demora!
Com ânsia, a herança em mãos agarrei
Parti sem hesitar, na mesma hora.

O mundo me acolheu com brilho e loucura
Na falsa alegria de banquetes vazios
O ouro alheio escorreu entre os dedos
E fiquei só… Eu me afastei, sem caminhos.

Perdi a dignidade, o vazio se alastrou
Da riqueza à fome, o remorso me julgou
Ao cuidar dos porcos, vi-me no espelho:
Um filho indigno, perdido, infiel.


Na casa do pai, os servos têm pão
E eu, errante, caído, sem direção
Com os olhos turvos e o peito apertado
Como pedir perdão, afundado em pecado?

Retornei… Ele me viu e correu ao encontro
Nos braços abertos, o indulto no olhar
– Meu filho errante regressou!
E a festa na casa começou a animar.

Um anel em meu dedo, um manto nos ombros
O novilho ao fogo, a mesa repleta
Era o abraço do amor sem medida
Graça do pai, infinita, completa.

Então meu irmão, ferido, indagou:
– Por que exaltar quem fez o que fez?
O pai respondeu com ternura e justiça:
– Há júbilo imenso: seu irmão retornou.

Nem sempre se entende o perdão do pai
Por falta de humildade ou de necessidade
Mas logo deixamos a lógica fria
Quando somos nós o filho que cai.

opoetatardio


sábado, fevereiro 22, 2025

Sou Minha Jornada


Eu floresço nas minhas tantas versões,
sou solo, semente, espinho, flor.
Reinvento-me a cada estação,
sem medo do sol, sem fuga da dor.
Abraço quem sou — nem sempre foi assim,
permito-me ser no meu próprio jardim.

A vida me pede honra, coragem e amor,
um colo que aquece, e um riso que alegra.
Sou passos e caminho, o mapa e as terras,
encontro-me na paz que nasce das minhas guerras.
Sem armas, munido de coragem e esperança,
me abraço, inteiro me faço e, assim, me desfaço.


opoetatardio

terça-feira, fevereiro 18, 2025

As Quatro Estações em Mim

    Fui primavera quando cheguei ao mundo — a natureza explodia em cores e aromas, um jardim de descobertas a cada novo olhar. Mesmo nos dias de pranto, o coração pulsava com a promessa de um recomeço. O ar estava impregnado com o perfume de infinitas possibilidades, e a vida se abria para mim como uma rosa que desabrocha aos primeiros raios de sol ao amanhecer, despertando-me para um novo dia. Eu era uma criança, pequena diante de um mundo vasto e desafiador, mas a curiosidade me guiava como uma bússola certeira. Cresci como um ipê jovem e vigoroso, com os galhos estendidos ao vento, desafiando tempestades e lançando-se em direção aos sonhos.
    Então veio o verão.

terça-feira, fevereiro 11, 2025

Viver e Viver



Às vezes a vida se desfaz em mil e um pedaços
E, ainda assim, seguir, sem pressa, é a jornada
Aceitar o que vem, com suas sombras e luzes
É saber que o que se perde nem sempre era para ter
Porque quem vive por viver, esquece o quanto é bom viver.


opoetatardio

 

terça-feira, fevereiro 04, 2025

Todos os Dias de uma Vida

Quando deste plano eu partir,
Não proclame aos quatro ventos
Que foi em tal dia que morri.
Brade, com a força dos pulmões,
Que foi até essa data que vivi.

Que em tuas lágrimas haja saudade,
Mas também transborde alegria,
Pois em cada passo da minha jornada
Houve vida, houve poesia—
E só em um dia eu parti.

Chorei, caí, também adoeci,
Conheci a dor e a falta de amor.
Traí e fui traído, sendo humano, sofri,
Mas escolhi seguir, decidi e vivi.

Não lamente os dias findos,
Nem os caminhos que não trilhei,
Pois, na estrada que percorri,
Cada instante, eu bem vivi.

Conte os contos que contei,
As amizades que não abandonei,
Fale da minha família que amei,
Recite os versos que propaguei.

Se quiser lembrar-me, sorria,
Brinde à vida, do sertão ao mar,
Pois, se um dia fui embora daqui,
Em todos os outros, estive aqui.

Existência


Carrego o peso da minha existência,
como uma vida inerte, deixada nas trevas do porão,
cercado por armadilhas que se fecham
sem que os olhos alcancem o sol.
Já não recordo o primeiro dia
que iniciou o resto da minha vida,
onde, amando, sou esquecido,
um fardo que se impõe aos ombros até o chão.

Entre passos apressados e sem rumo,
me vejo desintegrar nas sombras da solidão,
como um solo árido diante do dilúvio,
o vazio, algo que posso tocar,
um buraco que cresce,
uma voz que me chama,
uma ausência que me consome.
Eu sou mais eu. Mas o meu eu tem empatia pelo seu eu. (Pedro Trajano)