O som dos pingos d’água batendo no chão é o primeiro som que ouço ao despertar. Abro os olhos e percebo que já é noite; o ambiente está escuro. As gotas continuam a cair em um ritmo compassado, como o pêndulo do antigo relógio da sala da casa dos meus pais. Embora isso já faça muitos anos, a lembrança persiste. Hoje, nem o relógio nem a parede onde ele estava pendurado existem mais, e acho que nem a casa, pois meus pais vivem apenas nas minhas memórias: algumas boas, outras nem tanto e elas vêm e vão de maneira fugaz.
Minha cabeça dói intensamente, como se os pingos batessem diretamente nela, que lateja por toda a circunferência como se estivesse prestes a explodir. A dor é quase insuportável, uma pressão como um cinto de ferro se expandindo de dentro para fora do meu crânio. Mas tenho que agradecer pelo escuro; luzes artificiais durante essas crises parecem penetrar minhas retinas e se alojar no cérebro, intensificando a dor como agulhas perfurando minha cabeça. É estranho; não me lembro de ter visto a noite chegar. Será que desmaiei aqui por causa da náusea? Preciso de um remédio.